Realizar a técnica regularmente proporciona alívio a pessoas com problemas de saúde diversos
Thaís
Manarini, especial para o iG São Paulo | 14/08/2010
12:27
Segundo
um estudo recém divulgado pela Universidade de Manchester, no Reino Unido,
pessoas que praticam meditação com regularidade tendem a suportar melhor a dor,
pois seus cérebros são capazes de antecipar a sensação desconfortável a que
serão submetidos.
“A
meditação está ficando mais popular no tratamento de dores crônicas, como
aquela causada pela artrite”, disse Christopher Brown, que conduziu o trabalho,
ao site da instituição.
Para
muitos profissionais da área de saúde essa pesquisa – publicada pela revista
especializada Pain – reforça exatamente aquilo que observam frequentemente em
seus consultórios.
“Muitas
vezes os pacientes entram em um ciclo vicioso, pois as dores crônicas levam à
contração muscular que, por sua vez, piora a percepção dolorosa. Com a
meditação esse ciclo é quebrado, pois eles aprendem a olhar aspectos mais
positivos em vez de focar a atenção na dor e na doença”, informa a
anestesiologista Fabíola Peixoto Minson, diretora da SBED (Sociedade Brasileira
para o Estudo da Dor) e coordenadora dos centros de tratamento de dor dos
Hospitais Albert Einstein e São Luiz, em São Paulo (SP)
A
meditação ajudou a empresária Luciana a atenuar a dor da enxaqueca
Pois
é, mas a história nem sempre foi assim: até pouco tempo atrás a meditação era
vista com muita desconfiança pela classe médica. As coisas só começaram a mudar
nos últimos anos, quando ficou claro que a dor tem um componente afetivo e, por
isso, tentar tratá-la apenas com analgésicos nem sempre dá certo.
“O
preconceito contra a meditação está menor. Até porque, na prática, já se sabe
que os doentes que meditam evoluem melhor”, avalia Edson Amâncio,
neurocirurgião do Centro de Dor do Hospital Nove de Julho, na capital paulista.
Mecanismos
de ação
Segundo
Elisa Harumi Kosaza, bióloga e pesquisadora do departamento de Psicobiologia da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os benefícios proporcionados pela
meditação à saúde podem ser explicados a partir de basicamente dois aspectos:
fisiológico e psicológico.
“O
primeiro tem a ver com a liberação de neurotransmissores, como a endorfina, que
ajudam a reduzir a sensação de desconforto. Já o segundo está relacionado à
forma como a pessoa encara a dor, passando da rejeição a uma postura de
compreensão e acolhimento”.
Considerando
que pessoas inquietas e preocupadas tendem a exacerbar a percepção dolorosa,
outro ponto que merece ser destacado é justamente o efeito da meditação na
redução da ansiedade. “Calmos, os pacientes colaboram mais com o tratamento
indicado”, observa Fabíola, diretora da SBED.
Vida
com dor
Para
Stephen Little, um dos pioneiros na aplicação das práticas meditativas na área
da saúde no Brasil e instrutor na clínica Anima de Medicina Integrativa e
Complementar, em São Paulo (SP), o segredo é o paciente perceber que não
precisa tentar controlar ou fugir da dor, e sim conviver com essa sensação de
forma gentil e criativa.
“O
esforço habitual e inconsciente de se livrar da dor é o que mantém as pessoas
presas à experiência desagradável da qual desejam escapar. Em outras palavras:
a tentativa de acabar com o problema é o problema!”, resume.
Entrar
em contato com o próprio corpo permite, portanto, que uma pessoa se conheça
melhor e obtenha recursos internos para vencer a dor instalada. Dessa maneira,
é possível não só aumentar como incentivar a participação do paciente e de seu
organismo no processo de cura, deixando-o mais preparado para receber
medicações e passar por determinados procedimentos – como uma quimioterapia ou
cirurgia.
Coadjuvante
de peso
É
preciso ressaltar que a meditação funciona como um complemento a tratamentos
tradicionais. Por isso, o ideal é que o médico ajude a conduzir o pacientes por
esses caminhos diferenciados. “Podemos indicar meditação associada a
medicamentos, bloqueios dos nervos que levam a dor ao cérebro, psicoterapia e
fisioterapia”, exemplifica Fabíola Minson.
Esse
é justamente o caso da empresária Luciana Panzetti Moliterno, 39 anos, de São
Paulo (SP). Depois de ser diagnosticada com enxaqueca crônica – quadro
caracterizado por dores fortíssimas na cabeça, face, músculos das costas e
pescoço – ela foi submetida a todos os procedimentos mencionados pela diretora
da SBED, incluindo a meditação.
“No
começo senti dificuldade para praticá-la, pois a dor atrapalhava demais e nunca
encontrava uma postura cômoda. Mas continuei fazendo e percebi que, além de me
relaxar, as aulas tiram o foco da dor e permitem que eu sinta mais o meu
corpo”.
As
maravilhas vivenciadas por causa do método não são uma grande novidade para
Luciana. Afinal, a meditação entrou em sua vida pela primeira vez há 13 anos,
mas por outro motivo: um câncer de ovário.
“Era
muito jovem e estava bastante assustada. Aí meus médicos me encaminharam para
um grupo de apoio que ensinava técnicas meditativas. Elas foram
superimportantes para relaxar, fortalecer a mente, aumentar a imunidade,
minimizar as dores e entrar em profundo contato com meu corpo”, lembra.
Encantada
com o poder que a mente exerce sobre o corpo, a empresária incorporou algumas
técnicas em sua rotina. Hoje, pratica com mais afinco por causa das dores
crônicas.
“Estou
voltando a viver e posso dizer que a meditação me ajudou, mais uma vez, a
superar os obstáculos, me trazendo para o momento atual, acalmando meu corpo e
minha mente e, é claro, proporcionando mais qualidade de vida, pois é isso que
realmente conta”, comemora.
Fonte do artigo.
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