Médicos e praticantes contam como
a meditação pode ajudar a prevenir doenças e até curar outras através do
treinamento mental – isto porque essa técnica provoca mudanças no organismo.
“Meditar é a mesma coisa que ir a
um spa e ficar relaxando”. Se você pensa assim, não está distante do senso
comum, mas pode estar perdendo a oportunidade de experimentar os benefícios da
meditação. Técnica tradicional no Oriente, a meditação é objeto de estudo entre
especialistas ocidentais há décadas. Aos poucos, vem ganhando adeptos no Brasil
e seus benefícios já são detectados até mesmo em experiências clínicas.
Ricardo Zanardi Ramalho é médico
da família e clínico geral em São Paulo. Há seis meses, vem aplicando, em
Unidades Básicas de Saúde da cidade, técnicas de meditação para grupos da
terceira idade, dependentes químicos e pessoas com transtorno de ansiedade,
depressão e estresse. Alongamentos, exercícios leves, e de concentração e
respiração completam o tratamento. Os resultados ainda não são rigorosamente científicos,
mas Ramalho conta que, ao fim da prática, os pacientes apresentavam melhorias:
muitos tinham a pressão arterial reduzida, alguns portadores de distúrbios do
sono relataram grande melhora e deixaram de usar medicações controladas. “A
meditação envolve desenvolvimento cerebral e provoca mudanças estruturais no cérebro”.
Essas mudanças observadas pelo
médico vêm sendo detectadas em estudos científicos há várias décadas. Desde
meados dos anos 1970, o médico Herbert Benson publica livros e artigos
científicos sobre o tema. Hoje, além de professor da Faculdade de Medicina de
Harvard, é diretor do Instituto Benson-Henri (BHI), do Hospital Geral de
Massachusetts, que investiga a interação mente/corpo por meio de preceitos da
medicina, ou o que ele chama de relaxation response (resposta de relaxamento).
Benson, sua equipe e inúmeros cientistas mundo afora já conseguiram provar que
meditar diminui o metabolismo, os batimentos cardíacos e o ritmo da respiração,
provoca relaxamento muscular e sensação de bem-estar, reduz a pressão sanguínea
e aumenta a temperatura corporal periférica. Este último reflexo, dizem os
especialistas, seria a razão de os monges budistas não sentirem frio mesmo em
baixas temperaturas.
A ciência provou até que quem
medita por um longo período pode sentir menos dor do que aqueles que não
meditam. Um grupo da Universidade de Montreal publicou um trabalho, há quatro
meses, mostrando por meio de imagens de ressonância magnética, como o cérebro
de quem medita reage a estímulos de dor. Embora o praticante conheça a dor, ela
não é processada na parte do cérebro responsável por avaliar, raciocinar e
memorizar informações. "Achamos que quem medita sente as sensações, mas
encurta o processo, impedindo a interpretação dos estímulos dolorosos”, diz o
principal autor do trabalho, Pierre Rainville. É como se quem medita desligasse
certas áreas do cérebro receptivas da dor, mesmo experimentando-a.
Para os budistas, há uma fórmula
subjetiva para essa explicação científica da dor. Em recente visita ao Brasil,
na qual palestrou sobre meditação para especialistas e leigos na Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo, uma das mais respeitados do país, o
monge Bhante Yogavacara Rahula, do monastério Bhavana Forest, nos Estados
Unidos, explicou que sofrimento = dor x resistência. A fórmula significa que
quanto mais resistência você oferece à dor, mais você se apega a ela, causando
mais sofrimento. Em caso de resistência zero, o sofrimento decorrente da dor é
nulo. Uma mente bem treinada faz com que você não dê tanto peso às intempéries,
e isso o afasta daquilo que é ruim. “O segredo é não lutar contra as realidades
da vida, contra a impermanência”, afirma Rahula. “Dor é dada, sofrimento é
opcional”, diz.
Rafael Ortiz, ortopedista do
Hospital das Clínicas, explica. "Toda experiência cognitiva surge por um
tempo e desaparece. Só que as nossas lembranças fazem com que o Sistema Nervoso
Central continue reverberando aquela sensação já experimentada por meio de
estímulos nervosos”, afirma. Por exemplo: se você estiver de olhos fechados e
sentir algo tocando sua bochecha, pode concluir várias coisas. Se acontecer no
meio de uma floresta, e sentir medo, pode achar que é uma aranha. Se estiver
com o namorado, que se trata da mão dele. “A experiência adquirida muda como
você interpreta as sensações”, diz. A intenção da meditação é fazer com que as
pessoas se desapeguem dessas memórias e, com isso, consigam se livrar da dor
rapidamente.
Ortiz começou a meditar há nove
anos mais por uma busca existencial do que por problemas de saúde. Hoje diz que
os benefícios da meditação Vipassana – a que ele pratica e uma das várias
técnicas existentes – são inúmeros. Antes, o médico tinha muita dificuldade
para respirar com o nariz por conta de uma má formação do palato e por crises
de rinite – agora não mais. Ele também sofria de asma e tomava muitos remédios,
abandonados atualmente. Quando criança, era avaliado como se tivesse transtorno
de déficit de atenção. “Eu me tornei uma pessoa mais calma nos últimos anos. E,
sem dúvida, tem a ver com a meditação”, afirma. Segundo Ortiz, as pessoas confundem
felicidade com excitação. Depois da meditação, ele descobriu que a felicidade
está ligada à paz e à tranquilidade.
No budismo, a sensação de paz
interior tem a ver com a clareza mental que a técnica permite aos praticantes.
Segundo os ensinamentos de Buda, o sofrimento humano é decorrência de um tripé:
cobiça (desejar além do necessário para satisfazer prazeres e vícios), raiva (o
apego estimula a raiva, a vingança e a violência) e ignorância (não conhecer a
interação corpo/mente). Desapegado desses sentimentos, prossegue a teoria, o
homem consegue manter um afastamento sadio das situações para tomar atitudes
mais bem pensadas, justas. A meditação, por meio de transformações
fisiológicas, teria a função de fazer com que o praticante alcance uma
capacidade cognitiva acima da média e experimente a vida com menos
agressividade, com menor resposta ao estresse.
Em casos em que não a doença não
pode ser curada, a meditação pode ser usada como recurso terapêutico a quem não
responde bem a tratamentos convencionais, ou em conjunto com eles.
A calma produzida pela meditação
foi explicada cientificamente em 2009, por pesquisadores ligados ao Hospital
Geral de Massachusetts. Eles analisaram a densidade da massa cinzenta em uma
área do cérebro chamada amígdala (que nada tem a ver com a amígdala da
garganta), reguladora da resposta ao estresse, como liberação de hormônios,
aumento da pressão sanguínea e expressão facial de medo. Os participantes
relataram altos níveis de estresse no mês anterior ao experimento. Depois de
oito semanas de práticas como meditação, yoga e vivências em grupo, todos os
participantes relataram uma significante redução do estresse. E, quanto maior a
diminuição do estresse experimentada, maior a diminuição da densidade da
amígdala direita. Isso significa, também, que essa parte do cérebro modela o
comportamento inicial de percepção automática do estresse (como xingar o
motorista do carro da frente que te deu uma fechada). Se a densidade da
amígdala diminui, esse tipo de resposta ao estresse será menos frequente.
Em janeiro deste ano,
pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison publicaram um artigo dizendo
que a resposta automática ao estresse até então conhecida – aquela que aumenta
os níveis de adrenalina, faz você correr ou gritar em situações de perigo, o
chamado “instinto de sobrevivência” – confunde o cérebro. Essa resposta pode
romper com a habilidade de pensar claramente e tomar decisões complexas. Já o
praticante de meditação fica menos alerta diante de um estímulo de estresse,
mas com maior capacidade de tomar decisões estratégicas.
Obviamente essas mudanças nas
tomadas de decisões surtem efeitos sobre o estado psicológico do indivíduo.
Segundo um trabalho do Centro de Dependência e Saúde Mental (CAMH), no Canadá,
publicado no Archives of General Psychiatry em dezembro de 2010, a meditação
oferece a mesma proteção que antidepressivos contra recaídas. Durante 18 meses
após uma crise e posterior melhora, pacientes que foram tratados com remédios
tiveram o mesmo índice de recaída que aqueles tratados apenas com meditação.
Há, nessa descoberta, duas boas notícias: 1) os pacientes costumam parar de
tomar remédios por conta dos efeitos colaterais, mas ninguém para de meditar,
e, 2) meditar não gera despesa financeira.
Fonte: Revista Época
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