domingo, 10 de junho de 2012

Musculação cerebral

Pesquisadores investigam as alterações anatômicas e funcionais que a prática da meditação produz no cérebro e mapeiam seus benefícios para a saúde física e mental.

por: Alice Giraldi - Revista Neurociências

Uma consulta rápida ao PubMed, serviço da Biblioteca Nacional de Medicina Americana, retorna perto de dois mil resultados para a palavra meditation (do inglês, meditação). O crescente interesse da comunidade científica a respeito desse milenar exercício de treinamento mental parece ter fundamento, mostram os estudos. As melhorias observadas na saúde dos praticantes da meditação iriam além da redução do estresse. "A meditação é uma espécie de musculação cerebral, que revela benefícios em todas as direções", afirma o psiquiatra e neurorradiologista João Radvany, do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), pesquisador do tema. Entre os efeitos positivos da prática mental, ele destaca seu papel na prevenção ou tratamento de distúrbios crônicos, tais como insônia, fibromialgia e síndrome de fadiga crônica e, ainda, de doenças cardiovasculares, depressão, diabetes tipo 2 e artrite reumatoide. Entre os benefícios mais notáveis e mais bem estudados da meditação no sistema cardiovascular, destaca-se sua ação na regulação da pressão arterial. O National Institutes of Health (NIH), órgão de pesquisa em saúde do governo norte-americano, destinou 24 milhões de dólares ao estudo dos efeitos da meditação transcendental nas doenças cardiovasculares, nas duas últimas décadas, e as pesquisas realizadas por sete universidades norte-americanas apontaram resultados significativos nesse sentido. Em um dos estudos foram analisados 150 indivíduos hipertensos de origem afro-americana, grupo que apresenta incidência elevada de doenças cardiovasculares.

Após 12 meses de sessões diárias de 20 minutos de meditação, os praticantes exibiram redução média de 6 mmHg na pressão diastólica e de 3 mmHg na pressão sistólica. Outra pesquisa comparou as taxas de óbitos entre dois grupos de idosos com tendência à hipertensão, ao longo de 18 anos. O grupo que praticou meditação transcendental apresentou uma taxa de óbito 23% menor que a do grupo controle, que participou apenas de aulas de educação em saúde no mesmo período.

Quando um indivíduo medita, ocorrem alterações não somente na atividade cerebral, como também em aspectos fisiológicos, tais como batimentos cardíacos, ritmo respiratório e produção de hormônios", afi rma a psicobióloga Elisa Kozasa,pesquisadora do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto do Cérebro do HIAE. Ao lado de Radvany, ela participa de um estudo desenvolvido pelo hospital em conjunto com a Unifesp, que emprega a ressonância magnética funcional para analisar alterações na atividade cerebral de meditadores. A pesquisa comparou as características cerebrais de meditadores antes e depois de uma imersão de sete dias na prática intensiva da meditação. Os sujeitos tiveram seus cérebros analisados por exames de ressonância funcional antes e após a imersão, enquanto executavam o Teste de Stroop, que avalia a capacidade individual de conter a impulsividade e manter o foco numa determinada atividade.

Os dados coletados na pesquisa ainda estão em fase de análise, mas o estudo piloto mostrou mudanças na intensidade da atividade de algumas áreas do cérebro após uma semana de prática, particularmente entre os meditadores mais experientes, que praticavam pelo menos três vezes por semana, há mais de três anos. "Houve ativação no córtex pré-frontal e no giro do cíngulo, que são áreas relacionadas à atenção", informa Elisa. A capacidade de focar a atenção, frisa a pesquisadora, é essencial no desempenho de funções cognitivas importantes, como aprendizado e memória.

Neuroplasticidade e saúde pública

Um conceito cada vez mais relacionado à meditação na área da pesquisa médica é o da neuroplasticidade. Sabe-se que certas práticas e experiências são capazes de promover mudanças na anatomia e funções do cérebro. A meditação é uma delas. "Estudos mostram que cérebros de meditadores de longo tempo têm diferenças em relação aos de não meditadores", diz Elisa Kozasa. "São diferenças de espessura do córtex cerebral na região da ínsula, que está relacionada à interocepção e à percepção, e também em outras áreas ligadas à memória e à atenção." Uma pesquisa realizada em 2009, na Dinamarca, revelou também que indivíduos que praticam meditação durante muitos anos apresentam maior densidade de massa cinzenta na parte inferior do tronco cerebral, região relacionada ao controle cardiorrespiratório. No Brasil, a técnica já foi incorporada à rede do Sistema Único de Saúde (SUS) em 19 estados e 107 municípios, por meio da Política de Práticas Integrativas e Complementares do Ministério da Saúde. Uma parceria entre a Unifesp e a Prefeitura de São Paulo também viabilizou a introdução da prática da meditação na rede pública de saúde. "Hoje, 80% das unidades de saúde da região centro-oeste do município oferecem alguma atividade meditativa", conta Elisa Kozasa, que participa do projeto.

Os benefícios da Meditação são observados principalmente naqueles que mantem uma prática constante. Aprenda a MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL e inclua no seu dia a dia uma técnica que lhe trará mais qualidade na vida como um todo.

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