- Olha, eu tive um sonho ontem à noite - responde ele, antes de soltar uma gargalhada. - Mas não posso falar mais do que isso.
Esse mistério todo que cerca a obra de Lynch - tanto a futura quanto a passada e a presente - tem uma explicação na própria figura do diretor e pode ser mais bem compreendido no documentário "Transcendendo Lynch", do carioca Marcos Andrade, que estreia nesta sexta-feira no Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Andrade passou nove dias acompanhando uma visita do cineasta americano ao Brasil, em 2008, e teve acesso a momentos de sua intimidade. Por mais incrível que possa parecer para quem assiste a seus filmes e imagina um sujeito sombrio, o documentário de Andrade mostra uma pessoa espirituosa, brincalhona, quase sempre sorridente.
A razão para tamanha incongruência entre criador e criatura está, tanto na opinião de Andrade quanto na do próprio Lynch, na meditação transcendental. Desde 1973, ele é um adepto da prática, o que o levou, inclusive, a criar uma fundação com seu nome, cujo objetivo é propagar a meditação ao redor do mundo, sobretudo em escolas. Foi esse trabalho, além do lançamento de um livro sobre o tema, "Em águas profundas", que o trouxe ao Brasil há três anos. A mente de Lynch, apesar das aparências, vive em paz.
- Eu medito duas vezes por dia há quase 38 anos. Nunca deixei de meditar - conta. - Se as crianças aprendessem a técnica nas escolas, teríamos, em poucos meses, estudantes mais felizes. Suas notas melhorariam, assim como as relações entre eles e entre eles e os professores. O segredo é que tudo vem de dentro. Todo o estresse, toda a depressão e a ansiedade podem ser colocados para fora. Você pode limpar a máquina e deixar dentro de si apenas o amor e a criatividade.
Foi também a meditação que permitiu a realização de "Transcendendo Lynch". Com apenas um outro longa no currículo ("Korda", que nunca estreou em circuito), Andrade se tornou um praticante esporádico da prática em 2005, o que facilitou o contato com o diretor. Assim, dois meses antes da viagem ao Brasil, Lynch já havia topado ser acompanhado por uma equipe de filmagem.
- Ele foi bastante solícito, disse que estava à disposição. Fomos para todos os cantos a que ele foi no Brasil, ficamos nos mesmos hotéis. Podíamos filmar tudo o que ele fazia, até mesmo comer. Só não tínhamos acesso aos momentos em que ele entrava no quarto para descansar. E ele nunca pediu que parássemos de filmar - conta o brasileiro. - Esta alegria dele que está no filme é bem autêntica. Ele não faz tipo, é bastante paciente, sem estresse algum.
Apesar de ter, sim, se tornado uma espécie de guru da meditação transcendental - no Brasil, suas palestras acerca do tema eram acompanhadas de mini-shows com o cantor escocês Donovan, tudo presente no documentário de Andrade -, Lynch não abandou a carreira artística. Há quase uma década, ele mantém um trabalho paralelo na internet que, hoje, tem quase tanta repercussão quanto seus filmes. Em março, por exemplo, dirigiu um show da banda Duran Duran que foi transmitido ao vivo pelo YouTube. Há um ano, fez um vídeo promocional de 16 minutos, exclusivo para web, para a grife Dior. Intitulado "Lady Blue Shangai", o vídeo trazia Marion Cotillard como protagonista, muita música de fundo, muita fumaça e alguns dos conhecidos elementos oníricos dos filmes de Lynch.
- É muito estranho imaginar que houve um tempo em que a internet não existia. Hoje, a internet é muito forte, não para de crescer. Todas as velhas formas de se enviar informação para as pessoas estão afundando, enquanto a internet só faz crescer. Ela é certamente o futuro - diz Lynch.
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Segunda, 23 de maio de 2011, às 20h30.
Travessa Roberto Douglas Machado, 10 (altura do número 284 da R. Iguatemi) - Itaim Bibi
Entre a Rua Tabapuã e Rua Pedroso Alvarenga
Estacionamento mais próximo: Rua Iguatemi 252 - ROD estacionamento
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