Raquel Zimmermann deixou a época de menina corcunda que vestia as camisetas do pai e se tornou uma das mulheres mais elegantes e requisitadas do mundo.
Deixando de lado a época festeira, hoje prefere eventos sociais onde tem a oportunidade de conhecer novos artistas. A propósito, foi durante um jantar no ano passado que ela e a artista performática Marina Abramovic sentaram lado a lado. "Ela me contou que ficava sentada no MoMA (Museum of Modern Art de NY) das 10h30 até 17h30 sem pronunciar uma palavra", conta a modelo. Outro 'amigo' de Raquel é o diretor cult David Lynch, que foi quem despertou o interesse da top pela meditação transcendental. "Comprei o livro Águas Profundas do Lynch, fiz o curso e agora medito todos os dias, duas vezes: logo que acordo e à tarde". Em passagem ligeira pelo Brasil, a modelo (hoje ícone de acordo com o site models.com) desfila com exclusividade para Animale na sexta (28) e parte em seguida para Nova York, mas não antes de conceder entrevista ao Terra direto do Emiliano, hotel que hospeda além de Raquel, Gisele Bündchen e Paris Hilton. Bastante serena e à vontade, inclusive nas vestimentas: legging, camiseta, camisa jeans e sapato loafers de camurça, o assunto da entrevista iniciou comentando os mais de 30°C que fazia na cidade de São Paulo e terminou em bacalhau. Afinal, já passava das 14h30 e a bela ainda não havia almoçado.
Morando em Nova York, nesta época de inverno, bate saudades do calor brasileiro?
Muito, apesar de que estive no Brasil no Ano Novo. É a oportunidade que tenho para usar shorts. Sabe que prefiro fazer um editorial em que eu precise usar um casaco de pele no verão do que um biquíni no inverno. Não gosto de passar frio.
Qual é a responsabilidade em abrir um desfile, ser a primeira modelo a pisar na passarela?
Rola uma expectativa gostosa. As pessoas ainda estão com o olhar fresco, receptivas. Estou super empolgada.
Fale um pouco da sua parceria com a Animale?
É de fato uma parceria. Animale e eu começamos em 2005 lá no Rio de Janeiro, viemos para São Paulo e até hoje é um relacionamento que dá certo. Eu os respeito como marca e eles me respeitam como modelo. Trabalhamos em equipe, eu vou até o atelier, vejo a coleção, qual é a inspiração e, assim, tenho elementos suficientes para interpretar o que eles têm em mente: uma mulher mais selvagem, romântica ou sensual.
Você tem esta característica da versatilidade, de poder ser várias mulheres.
Esta é uma das coisas que mais me divirto sendo modelo. Posso ser várias personagens.
E quem é a mulher Raquel Zimmermann?
Eu sou casual, procuro usar roupas confortáveis. Aos 27 anos, não sou do tipo que fica sonhando com o futuro, eu desfruto o presente. Claro que, em algum momento da minha vida, vou sentir o desejo de ser mãe, constituir família, mas minha fase atual é de autoconhecimento, até aprendi a meditar.
Você medita todos os dias?
Sim, duas vezes ao dia. Logo que acordo medito por vinte minutos antes mesmo de tomar o café. Depois, por volta das 17h, medito por mais vinte minutos. Esta prática tem me dado mais vontade de aprender, descobrir, ter uma atitude positiva perante a vida. Aconselho todos a meditar.
E o que tem descoberto sobre você mesma?
Que sou uma pessoa calma que prefere frequentar eventos sociais, conhecer novos artistas, apoiar causas sociais. Já dei festas incríveis, mas minha fase atual é outra.
É maravilhoso o caminho que minha vida segue: ser modelo, viajar, conhecer pessoas, ir a museus.
A arte te inspira?
Sempre. Comecei a observar a pintura, as sombras, a iluminação. Todos elementos que somam na minha carreira. Moda requer arte sempre. Até para entender o comportamento de uma época, o que se vestia. Diversos fotógrafos e editores se inspiram na arte em seus trabalhos.
E quais são os seus artistas preferidos?
Egon Schiele, um pintor austríaco ligado ao movimento expressionista. Gosto muito do Klimt que é contemporâneo a Schiele.
Como mulher, respeito a obra de Frida Kahlo que foi transgressora e dona de personalidade forte.
Recentemente, durante um jantar, conheci a Marina Abramovic e ela me contou que ficava sentada no MoMA (Museum of Modern Art de NY) das 10h30 ate às 17h30 sem pronunciar uma palavra, em silêncio absoluto. Fiquei arrepiada com a história. Ela ainda me disse "Raquel, você precisa conhecer o meu trabalho". Como estou neste momento de querer descobrir tudo, cheguei em casa e comecei a pesquisar sobre ela na internet.
Voltando à meditação, tem alguma relação com David Lynch?
Conheci o David Lynch em um trabalho para a Gucci, desde então o admiro profundamente. Comprei o livro dele (Águas Profundas) sobre meditação transcendental e fiquei inspirada para fazer o curso e aprender a técnica.
Algumas pessoas acham difícil meditar, mas é super simples, até uma criança de oito anos consegue. É um processo de sentar e fechar os olhos por 20 minutos.
Diariamente me sinto mais leve, mais relaxada, nada me irrita.
Nem mesmo uma maratona de entrevistas?
(risos) Nem isso. Desde que comecei a meditar nada mais me incomoda. Sou muita grata ao meu trabalho e faz parte desta profissão dar entrevistas. Antes me questionava, qual é a curiosidade que as pessoas têm em querer me escutar, saber o que penso. Já que é assim, preciso ser um bom exemplo.
Já se encontrou com a Gisele Bündchen, que está hospedada aqui também?
Ainda não, mas se encontrar será muito legal. A Gisele é uma querida, sempre muito alegre. Ela foi um exemplo para mim como modelo e como pessoa.
Alguém administra o seu dinheiro?
Eu tenho um contador em Nova York, mas confiro todas as minhas contas.
Em que você investe sua grana?
Imóvel. Eu nunca gostei de investir em bolsa de ações, porque, se você não acompanha, corre um sério risco de perder dinheiro. Prefiro coisas mais sólidas como imóveis. Mesmo que o valor caia, depois de um tempo ele valoriza.
O que foi ser a número 1 do mundo e o que é ser uma ícone?
São fases. Quando recebi este 'status' de número 1 foi gratificante. Era o reconhecimento de uma trajetória de quase dez anos. Fiquei neste posto por cerca de dois anos, então, já estava na hora de passar o trono.
Estar na categoria de ícone junto com a Linda Evangelista, Naomi Campbell, Kate Moss, Gisele Bündchen e outras, só aumenta a responsabilidade. Estou em um time pesado.
Qual é a sensação da menina corcunda que usava as camisas do pai se tornar umas das mulheres mais elegantes do mundo, segundo a Vogue América?
É a sensação de que a menina cresceu e aprendeu. A indústria da moda foi aminha faculdade e hoje tenho o seu reconhecimento.
A equipe da Vogue sempre me apoiou, principalmente a Grace Coddington, meu maior exemplo de bom gosto. Devo muito do que sei sobre moda ao pessoal da Vogue.
Como você encara a nudez em editoriais como o da Purple Fashion?
Eu era bem tímida quando mais nova. Aos 27 anos, vejo a nudez com naturalidade.
Posar nua para a Purple foi uma escolha, porque sei que ali existe um contexto, não estou correndo pelada na rua. Além disso, eu fotografei com a Inez van Lamsweerde que eu conheço super bem. Então, me senti super confortável.
Eu era bem tímida quando mais nova. Aos 27 anos, vejo a nudez com naturalidade.
Posar nua para a Purple foi uma escolha, porque sei que ali existe um contexto, não estou correndo pelada na rua. Além disso, eu fotografei com a Inez van Lamsweerde que eu conheço super bem. Então, me senti super confortável.
Qual é a parte do seu corpo favorita?
Minhas pernas. Quando eu era criança andava muito de bicicleta, acho que por isso elas se desenvolveram tanto.
Minhas pernas. Quando eu era criança andava muito de bicicleta, acho que por isso elas se desenvolveram tanto.
Sente falta de algo do Brasil?
De muitas coisas, quase tudo. Mas o churrasco brasileiro...
Assim que chega o almoço, Raquel muda de ideia. "Pensando melhor, em Nova York também tem churrascaria. Sinto saudades mesmo é de bacalhau". De muitas coisas, quase tudo. Mas o churrasco brasileiro...